sexta-feira, 18 de agosto de 2017

O Mundo não se Fez para Pensarmos Nele


Oi Gente...



Amo os Fernandos Pessoas, embora as poesias deles não sejam nem tão fáceis de entender, nem tão poéticas e muito menos alegres. Mas seja como for, Fernando Pessoa e todas as suas crias" - cada uma com sua personalidade, nos deixaram um legado muito grande para reflexão.  Hoje, quis reler o - para mim - poema do girassol.




O Mundo não se Fez para Pensarmos Nele

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...

Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema II"

"O Meu Olhar É Nítido Como Um Girassol" é um poema de autoria de Alberto Caeiro. Neste poema, o eu-lírico conta que seu olhar é sempre diferente, pois o que vê a cada momento é aquilo que nunca antes tinha visto. Novamente, o autor defende seu ponto de vista de que não tem filosofia, e que ninguém deveria ter.

Alberto Caeiro nasceu em 1889 e é considerado o mestre de todos os heterônimos de Fernando Pessoa. Era ligado à natureza, e desprezava e repreendia qualquer tipo de pensamento filosófico. Afirma que, ao pensarmos, entramos em um mundo complexo e problemático, onde tudo é incerto e obscuro. É um poeta de completa simplicidade e considera que a sensação é a única realidade. Viveu até 1915.

Nenhum comentário:

Postar um comentário